quarta-feira, 26 de junho de 2019

Pai e filha salvadorenhos morrem afogados na tentativa de chegar aos EUA

Mãe da criança viu o momento em que eles se afogaram no Rio Grande no domingo. Foto provocou comoção.
Por G1
Migrante salvadorenho Oscar Martinez Ramirez e da filha morreram ao tentar atravessar o Rio Grande, que fica fronteira entre o México e os EUA — Foto: AFP

Um migrante salvadorenho e sua filha de quase dois anos morreram afogados enquanto atravessavam o Rio Bravo na cidade de Matamoros, no estado mexicano de Tamaulipas. Eles tentavam chegar à cidade texana Brownsville (EUA).

Os corpos foram encontrados na segunda-feira (24), no lado mexicano da fronteira. As fotos que mostram a criança com o bracinho apoiado no pescoço do pai provocaram forte comoção no país.

A família salvadorenha aguardava na cidade mexicana de Matamoros a oportunidade de solicitar asilo nos Estados Unidos. Na tarde de domingo (23), o cozinheiro Óscar Martínez Ramírez, de 25 anos, decidiu que faria a travessia do Rio Grande.

A mulher dele e mãe da menina, Tania Vanessa Ávalos, contou ao jornal mexicano “La Jornada” que ele pegou a pequena Valeria nos braços, fez a travessia e a deixou em terra firme em segurança. Porém, ele voltou para ajudar a mulher.

Ao ver o pai se afastar, a criança se jogou na água. Ele voltou e conseguiu segurá-la, mas não resistiu à forte correnteza. A mãe viu o momento em que os dois submergiram.

As buscas duraram cerca de 12 horas e os corpos foram encontrados a cerca de 500 metros do local onde foram vistos pela última vez.

Pai e filha foram encontrados juntos, unidos pela camisa preta que Óscar Alberto vestia. Valeria estava com o braço em volta do pescoço do pai.

Menino sírio
A foto do pai e filha lembra a do menino sírio Alan Kurdi, encontrado morto em uma praia da Turquia, em setembro de 2015, enquanto tentava fugir da guerra civil no seu país.

O deputado democrata Joaquin Castro, do Texas, ficou emocionado ao falar sobre a fotografia em Washington e disse esperar que o caso faça diferença no debate dos legisladores e do público americano sobre a questão da imigração.

"É muito difícil ver essa fotografia. É a nossa versão da fotografia da Síria - do menino de 3 anos na praia, morto. É isso'', declarou.
Policial paramilitar turco investiga o local onde apareceu o corpo de uma criança imigrante numa praia de Bodrum, na Turquia — Foto: AP Photo

Crise migratória
Até o mês passado, em Matamoros, havia dois acampamentos para migrantes: um na Puente Viejo e outro na Puerta México. A família estava nesse último, que ficava às margens do Rio Bravo. O casal pretendia pedir um visto humanitário para o governo americano.

Na região, os imigrantes enfrentam a escassez de alimentos e temperaturas altas, que chegam a atingir 45°C. Cansada de esperar, a família salvadorenha optou pela arriscada travessia.

A tragédia chama atenção para a crise migratória na fronteira dos Estados Unidos. Em caravanas, Hondurenhos, salvadorenhos e nicaraguenses fazem longas travessias a pé até chegar à fronteira com os Estados Unidos com o objetivo de pedir asilo político.

Ainda de acordo com o jornal mexicano, no fim de maio o número de solicitações chegava a cerca de 2 mil e uma multidão ainda estava na região à espera de atendimento.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, tem a intenção de construir um muro na fronteira com o México - sua principal promessa de campanha - com o intuito de deter a imigração ilegal, mas enfrenta forte oposição democrata.

Há algumas semanas, os governos dos EUA e do México firmaram um acordo para deter as pessoas que tentam entrar nos EUA pela fronteira sul, vindas da América Central e passando pelo território mexicano.

Na véspera de lançar sua campanha à reeleição, Trump afirmou que vai deportar, a partir da próxima semana, milhões de imigrantes ilegais que vivem no país.
Imagem de arquivo de 2018 mostra caravana de migrantes que começou em Honduras — Foto: Reuters/Ueslei Marcelino

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